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O que o Shopping Eldorado tem a ensinar sobre lixo e engajamento

Data: 27/04/2017

São Paulo, 27 de Abril de 2017 às 08:00 por Inês Godinho

A praça de alimentação costumava ser o andar mais quente do Shopping Eldorado, em São Paulo, e exigia regulagem forte do ar condicionado. Além da concentração de cozinhas, a área fica no último piso e sofria com a insolação direta sobre o telhado do prédio.

Desde 2012, o desconforto térmico dos clientes e a conta de energia vêm tendo uma sensível redução. Sobre a cabeça dos 10 mil clientes que circulam por lá diariamente viceja uma horta com dezenas de espécies de verduras, legumes, ervas e frutíferas. Sim, uma horta orgânica em plena avenida Rebouças fez baixar a temperatura da praça da alimentação. 


EM 5 MIL M2 DO TELHADO, HÁ UMA FARTURA DE LEGUMES, VERDURAS, TEMPEROS E FRUTAS

Esta é uma ponta da experiência. A história completa mostra como um alto investimento em mudança de cultura e um baixo investimento financeiro se tornaram um caso exemplar para resolver impasses urbanos ligados a lixo, alimentação e consumo de água e energia. 

Resíduos do Shopping Eldorado - Números diários 
10 mil refeições servidas
1 tonelada de lixo orgânico 
1 tonelada de composto orgânico produzido  
5 mil litros de água descartada reaproveitada  

“Desde a aprovação da Lei de Resíduos Sólidos, em 2010, estávamos atrás de uma solução para as 30 toneladas produzidas mensalmente pelas quase 70 lojas de alimentação”, conta Sergio Nagai, superintendente do shopping.

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A lei determina o fim dos aterros sanitários ou lixões, assim como a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos entre todos os envolvidos no processo de produção e consumo. Para isso, exige que cada empresa tenha seu plano de gerenciamento de resíduos sólidos. 

O shopping paulistano respondeu na primeira hora. Desenhou um plano que envolve reciclar 100% dos resíduos orgânicos, eliminar o envio de lixo para os aterros sanitários, diminuir o uso de energia e água e dar destino correto aos resíduos recicláveis. O plano previu metas e prazos para as etapas do projeto – 2020 é a data limite para chegar ao resíduo zero no funcionamento do shopping.

Nada muito diferente do que se espera que as empresas façam com seu lixo. E com o mesmo grau de dificuldade enfrentado por todas, por envolver uma mudança de hábitos arraigados na população. No caso de um shopping, as dificuldades não são pequenas.

 

QUE SUJEIRA!

Entre os tipos de lixo, o orgânico é o mais complicado para lidar, pela aparência e odor, e há de sobra no shopping em função dos restaurantes. O gatilho para sensibilizar e envolver as pessoas a aderir ao projeto ocorreu a Nagai quando viu um documentário da National Geographic.

“Assisti o que se fazia em uma ilha no Japão. Desenvolveram um sistema de compostagem em um cilindro enorme para receber todo o lixo biodegradável produzido pelos habitantes. O processo era acelerado com o uso de enzimas e o composto final, espalhado pela ilha, ajudava a adubação do solo. Sem mal cheiro, sem sujeira, sem risco de contaminação.”

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Literalmente, o executivo importou a receita. Criou uma usina de tratamento na garagem de serviço do shopping, mudou as regras do condomínio, produziu uma cartilha para os lojistas, treinou os funcionários diretos para fazer a separação correta e instalou ilhas de manuseio de lixo orgânico dentro da praça de alimentação. Demorou para vencer resistências na equipe interna, já que, sem separação rígida da sobra de comida e zero de contaminação, nada feito.

Por fim, a cereja do bolo – a instalação de uma horta para aproveitar o adubo de alta qualidade resultante do processo de compostagem. Atualmente, a plantação ocupa metade do espaço de 9.500m² do terraço. “Com a horta, as pessoas visualizaram o ciclo completo do lixo orgânico e entenderam o valor de se cuidar dele”, explica Ricardo Gonçalves Omar, gerente de operações e atual responsável pelo projeto.

 O entendimento se estendeu às outras modalidades de lixo e ajudou a acelerar os processos ligados ao plano de resíduos sólidos. De forma aparentemente simples, o resultado apareceu. “Apenas fizemos o básico bem feito”, ressalta Nagai.

A cada quatro meses, em média, a administração do Eldorado faz a Festa da Colheita, como um símbolo de recompensa pela dedicação dos 400 funcionários. Todos são convidados para fazer a feira na horta do shopping e colhem pessoalmente o que plantaram.

Até o final de 2016, o shopping havia atingido 35% da meta de zerar o lixo produzido por suas atividades. 

O QUE O ELDORADO APRENDEU

A experiência do shopping teve ampla repercussão, se tornou referência e ganhou prêmios de sustentabilidade. No entanto, nada aconteceu sem muito esforço, persistência e também frustrações. O exemplo serve para empresas de qualquer setor e tamanho, que, em algum momento, precisarão responder às exigências (e aos custos) da Lei de Resíduos Sólidos. Veja quais foram os principais pontos do projeto de implantação, os benefícios e que entraves esperar no caminho.

 

FOTO: Divulgação



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